Esta publicação descreve um pouco sobre a relação entre
cliente/fornecedor na indústria da construção civil e os principais problemas
enfrentados pelas empresas de construção em relação a qualidade dos materiais e
componentes.
MACRO-COMPLEXO CONSTRUÇÃO CIVIL
A atividade de construção civil é parte indissociável do
desenvolvimento do país, gerando bens que, além de produzir a infra-estrutura
necessária para diversas atividades econômicas, proporcionam bem-estar e
qualidade de vida à sociedade. Segundo os conceitos mais recentes da economia
industrial, não é possível analisar a Indústria da Construção enquanto
atividade fim isolada, considerando-se apenas o processo produtivo de montagem
dos produtos finais (edificações, estradas, pontes, barragens, etc.). Esta
atividade mantém relações muito estreitas com as
atividades precedentes, que produzem
os insumos necessários para a materialização de um projeto concebido (Silva,
1994).
O segmento produtor de edificações caracteriza-se por uma grande
diversidade de insumos utilizados, provenientes de distintos setores
industriais. Além da própria indústria montadora, o macro-complexo da
construção civil é composto por seis cadeias produtivas. Identificam-se seis
grandes cadeias produtivas neste macro-complexo: (a) extração e beneficiamento
de materiais não-metálicos; (b) insumos metálicos; (c) madeira; (d) cerâmica e
cal; (e) cimento; e (f) insumos químicos (Souza et al. 1993).
Existe uma forte dependência entre a atividade fim e as várias
cadeias produtivas, no sentido de assegurar um bom desempenho da produção
quanto à qualidade e produtividade (Silva, 1994). A fragmentação existente
exige um grande esforço de troca de informações entre diferentes agentes, de
forma a atingir a compatibilização técnica, padronização e formação
profissional necessários para alcançar elevado desempenho. Esta afirmação é
confirmada pelo estudo realizado pelo McKinsey Global Institute (1998), que
compara diversos setores industriais do Brasil, Estados Unidos e Coréia do Sul.
Tal estudo concluiu que a falta de integração do macro-complexo da construção
civil é efetivamente uma das principais causas da baixa produtividade da
indústria da construção brasileira em relação àqueles dois países.
Algumas indústrias deste macro-complexo envolvem tecnologias de
alto teor de conhecimento incorporado (vidros, tintas, tubos e conexões),
enquanto outras ainda conservam tecnologias com características muito
tradicionais, constituindo, em alguns casos, processos artesanais (cerâmica
vermelha, cal, esquadrias) (Silva & Souza, 1993). Sob um enfoque mais
amplo, o macro-complexo da construção civil é freqüentemente caracterizado como
atrasado por grande número de analistas das mais variadas áreas, possivelmente
em função dos seguintes aspectos constatados: desenvolvimento tecnológico lento
e incremental na ponta da cadeia, sem a percepção do desenvolvimento das partes
anteriores sobre a produção final; nível de produtividade que pode ser
considerado muito baixo se comparado aos padrões industriais e nível de
qualidade do produto final que não se traduz numa adequação plena às
necessidades dos clientes finais (Silva, 1994),
Constata-se,
assim, a necessidade da inserção do macro-complexo da construção civil numa
nova forma de organização industrial, de forma a assumir uma posição
competitiva em condições de igualdade a outros setores que disputam a alocação
de recursos por parte dos investidores e a priorização de consumo por parte dos
clientes finais.
AÇÕES NO SENTIDO DE INTEGRAR O MACRO-COMPLEXO
O esforço de integração das cadeias produtivas no macro-complexo
da construção civil deve ocorrer em diferentes níveis, tanto no âmbito nacional
quanto regional e local, uma vez que a área de abrangência dos diferentes
setores fornecedores é variável. Por exemplo, enquanto a articulação com os
setores produtores de areia e cerâmica vermelha deve ocorrer localmente, o
esforço de integração com outros setores fornecedores, como vidros e cerâmica
para revestimento, requer ações de caráter nacional.
Neste sentido, é importante destacar uma tendência no país,
observada recentemente, de maior utilização do poder de compra do estado no
sentido de induzir a melhoria do desempenho do macro-complexo. Entre as
principais iniciativas desta natureza destaca-se o Programa QUALIHAB, no âmbito
do Estado de São Paulo, e o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade da
Construção Habitacional (PBQP-H), a nível federal. Ambos os programas enfatizam
a integração da cadeia produtiva entre as suas principais ações.
O PBQP-H, coordenado pela Secretaria de Política Urbana (SEPURB)
do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), propõe a seguinte meta
mobilizadora: “elevar para 90%, até o ano 2002, o percentual médio de
conformidade com as normas técnicas dos produtos que compõem a cesta básica de
materiais de construção”. Esta meta pretende mobilizar os agentes públicos e
privados envolvidos no macro-complexo e baseia-se no combate à não conformidade
intencional às normas técnicas de produtos, praticada por alguns fabricantes
responsáveis pelo fornecimento de materiais e componentes de construção civil
(SEPURB, 1998).
Pretende-se alcançar tais metas através do desenvolvimento de
Programas Setoriais da Qualidade (PSQ) a nível nacional, semelhantes aos que
foram desenvolvidos no Estado de São Paulo no âmbito do QUALIHAB. Os PSQs são
coordenados por entidades representativas dos setores produtores de materiais e
componentes de construção, as quais assumiram o compromisso de conduzir tais
programas, levando em conta as peculiaridades de cada segmento. Compõem a cesta
básica de materiais da construção habitacional os seguinte itens: (a) materiais
e componentes estruturais e de alvenarias (cimento portland, aço para armadura
de concreto, bloco cerâmico, componentes de madeira, laje pré-moldada e
argamassa industrializada); (b) materiais e componentes de coberturas e
acabamentos (telha cerâmica, portas e janelas de aço/alumínio/PVC, cerâmicas de
revestimento e vidros planos); e (c) materiais e componentes de sistemas
hidráulicos e elétricos (tubos e conexões de PVC, metais e louças sanitárias,
fios e cabos elétricos e material elétrico como interruptores, tomadas e
disjuntores).
A nível regional, cabe destacar também as iniciativas do Comitê de
Tecnologia do SindusCon/SP que, desde 1997, vem realizando vários eventos
técnicos a partir dos quais são desenvolvidas ações de integração entre a
indústria da construção e setores fornecedores de materiais e componentes.
No âmbito das empresas, também há uma crescente necessidade de
integração dos processos e operações que ocorrem entre construtores e
fornecedores de materiais de construção, de forma a estabelecer um eficiente
fluxo de informações entre ambos (Isatto, 1996). Por exemplo, através de um
sistema de avaliação dos fornecedores busca-se retroalimentar o fornecedor de
forma clara quanto ao seu desempenho, proporcionando-lhe meios para sua inserção em uma postura de melhoria contínua, e também os
processos internos da empresa, em especial o projeto e especificação de
materiais e o planejamento operacional. Assim, o processo de qualificação e
seleção de fornecedores permite retirar uma fração significativa da
subjetividade e imprevisibilidade associada à aquisição de insumos.
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